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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sentimentos

[Tenha a certeza de ter lido "Apenas Humanos" antes de ler este conto]


Eu me lembro do passado, de um tempo em que as coisas não eram tão complicadas. 

Pequenas quedas de energia que algumas pessoas nem sequer percebiam, mas, para mim, isso já servia como uma pista. E minha vida se tornou isso, pista após pista para tentar compreender algo que eu não entendia. Ignorância é felicidade. Mas eu continuei à procura de pistas. 

Eu não tinha certeza do que procurava quando entrei na casa de Derrick Todd. Eu pensei que encontraria respostas mas, eu estava errada.

O cheiro de algo forte preenchia a casa e eu o reconhecia. Entrei na sala de estar, a memória da primeira vez em que estive lá veio à minha mente. Desde então um bom tempo passou e eu não descobri muito sobre meu pai, ou o que diabos eram essas coisas. 

Eu procurei ao redor da sala, eu não tinha um plano, eu não tinha uma arma, eu não tinha ideia do que eu faria se uma dessas criaturas me atacasse. Mas, por alguma razão, eu não me importava. Eu senti que tinha que ajudar Derrick, tinha que fazer alguma coisa neste momento. 

O rastro de óleo negro ia para o segundo piso, eu o segui. Fui cautelosa ao subir as velhas escadas da casa de Derrick, se ainda houvesse alguém lá em cima, eu não queria alertá-lo. Enquanto eu subia, pude ouvir vozes. Era Derrick. Continuei a me aproximar da forma mais silenciosa que eu pude.

- Não, não, escute. Eu sei que você pode... Eu preciso de vocês para... Mentiu para você... Eu não sei como isso... Adeus.

Eu estava tão próxima a porta, prendendo minha respiração para que não pudessem me detectar, que acabei não ouvindo claramente a conversa. De repente, alguém parece se levantar da cama, passos ecoaram em minha direção. Eu dei um passo para trás e me preparei. A porta se abriu. Era Derrick. Ele parecia muito cansado.

- O que está fazendo aqui?
- Com quem você estava falando?

- Ninguém.

Eu verifiquei o quarto, não havia nada lá além de uma poça daquele liquido preto no chão. 

- Você precisa ir embora. Não deve se envolver tanto nisso. 

Ele começou a se afastar, mas eu o parei, já estava frustrada, e queria saber a verdade. Eu o empurrei contra a parede.

- Me diga o que você sabe! Se não disser, eu o farei falar! 

Ele apenas riu e me empurrou para longe dele. Naquele momento, eu acho que poderia te-lo matado se eu tivesse alguma arma em mãos. Ele desceu as escadas para a cozinha. Ficou lá por apenas um segundo antes de eu ir até ele. 

Me senti como uma criança quando nenhum adulto acredita ou ouve o que ela diz. 

- Derrick, isso é sério! - Ele simplesmente se manteve em silêncio enquanto pegava uma bebida. 

- Derrick... Louis Rockwell veio até mim. - Ele deixou seu copo de whisky cair. Ele olhou para mim, eu quase não o reconheci. 
- Você está parecida com ele sabia? O bastardo nunca aceitou o silêncio como resposta, assim como você. Tudo o que eu queria era mantê-los longe de tudo isso. Mantê-los seguros. Sim, ele descobriu um monte de coisas que ainda nem conhecemos, mas não foi feliz sabendo disso, não é? Seu pai se culpava por tudo isso, mas como ele, você já está viciada, é uma candidata a nascer... V-você me enoja. 

Eu não pude dizer nada.

Ele pegou outro copo, mas mudou de ideia, bebeu o whisky diretamente da garrafa e deixou seu corpo cair na cadeira. 

- Fuja. 
- O quê?

- Acho melhor que saia da cidade. Você tem que continuar fugindo. 
- Porquê? O que está havendo? - ele bebeu um longo gole do gargalo. 

- Você só tem algumas horas. 
- Até o quê? - Ele olhou para mim só por um segundo e voltou para a sua bebida. 

- O nosso fim. 
- Como você tem tanta certeza disso?

- Porque tudo foi planejado para mim, seu pai e você. Nós planejamos isso. Não, nós não imaginávamos chegaria a esse ponto. Mas nós fizemos tudo de uma forma que... Nós queríamos tudo, tudo só para nós. Claro, nunca dissemos uns aos outros isto, mas esse era nosso desejo. Estávamos preparados para fazer qualquer coisa para conseguir o que queríamos. 

Ele olhou para mim e eu vi que ele estava chorando. 

- O sol já não pode nos alcançar mais, apenas a escuridão restou. - Ele tomou outro gole. – “Agora vá”. 

Me virei e corri até que minhas pernas não aguentassem mais, até respirar tornou-se doloroso. Ainda estava escuro, mas não havia ninguém nas ruas. Eu comecei a correr novamente. Corri para casa, mas não havia nada lá para mim. Minha casa estava vazia, como se eu nunca tivesse estado lá antes. Como se eu nunca tivesse existido. 

Isso me assustou mais. E não quis tentar descobrir quem fez isso, apenas continuei a correr, e eu não sabia o por quê. Como se isso de alguma forma me fizesse escapar de algo que estivesse me seguindo. Mas eu não podia. 

Por fim, acabei chegando em um parque. Eu já não aguentava mais, meu corpo caiu no chão. Eu gritei, chorei. Eu queria respostas, eu queria saber a verdade, eu queria que o meu pai estivesse aqui... 

Então meus olhos se fecharam. Eu havia desmaiado. 

[A história continua em: Meia Noite]

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