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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Encontrei uma câmera


  No verão de 2009, eu, minha família e uma amiga minha fomos passar duas semanas na Flórida. Na verdade, aquilo era uma viagem de negócios para meu pai e um passeio de férias somente para eu, minha mãe e minha amiga. Passamos a maior parte dos dias visitando os parques temáticos mais próximos, nadando na piscina do hotel ou frequentando convenções.

  No início da segunda semana, nós três decidimos ir ao Estúdio da Disney de Hollywood. Eu esqueci boa parte dos acontecimentos daquelas férias, mas ainda lembro do Rock'n'Roller Coaster (uma atração da Disney). Minha amiga, que era uma grande fã do Aerosmith, insistiu para que fôssemos lá. Eu, no entanto, não tinha tanto interesse naquilo, e preferi ficar sentada no lado de fora enquanto ela e minha mãe iam.

  Em algum momento, lembro-me que a bolsa da minha mãe escorregou para fora do banco onde eu estava e quando eu tentei pegá-la de baixo dele, encontrei uma capa de câmera. Colocando-a junto com a bolsa em cima do banco, eu a abri para encontrar, bem... Uma câmera digital. Procurei por qualquer tipo de identificação na capa, mas não encontrei nada. Simplesmente assumi que alguém provavelmente havia guardado a bagagem embaixo daquele banco e esquecera da câmera quando foi retirar seus pertences.

  Assim que deixei a câmera de lado, minha mãe e minha amiga saíram do passeio e eu caminhei para encontrá-las. Havia decidido que quando estivesse deixando o parque temático, eu largaria a câmera com sua capa na região da entrada para que de alguma forma ela fosse parar nos achados e perdidos. Como era de se esperar, esqueci de tudo isso até chegar no hotel.

  Dentro do quarto em que estava hospedada, finalmente parei para ligar a câmera e ver se havia mais alguma possível forma de identificar a quem ela pertencia. O cartão de memória estava cheio. As fotos revelavam uma família de cinco membros; mãe, pai, duas filhas e um bebê. Eles pareciam uma família jovem e feliz.

  O que eu considerei estranho era que as últimas imagens não eram deles naquele parque temático... Na verdade, pareciam estar em um churrasco no terraço da casa de alguém. Segui até a vigésima foto, e decidi que não havia necessidade de continuar. Minha amiga, que estava igualmente interessada no objeto que eu encontrara, sugeriu que eu fizesse um post a respeito no Facebook. Eu já vira posts daquele tipo antes, em que pessoas encontravam algo perdido e conseguiam divulgar até devolver o achado para seus legítimos donos.

  Parecia uma ideia meio boba, mas achei que valia a pena tentar. Com a ajuda dela, consegui tirar algumas imagens da câmera e criar um post. Algumas semanas se passaram e eu estava conseguindo uma boa quantidade de curtidas e compartilhamentos. Já havia passado dos 100.000 compartilhamentos, mas pensando bem, não era tanto assim e eu estava começando a duvidar se alguém iria reivindicar aquela câmera.

  Então, no ano de 2011, fazia meses desde a última vez em que eu havia sequer pensado naquela câmera. Eu a jogara dentro do meu armário muito tempo antes, e se não fosse pelo processo de me mudar para a universidade naquela época, eu provavelmente a teria esquecido por anos. Quando eu a encontrei novamente, estava escolhendo o que iria levar, jogar fora ou vender. Ao longo daqueles dois anos que haviam se passado, eu já não me sentia culpada por vender ou mesmo manter a câmera comigo. Porém, eu me sentia na obrigação de pelo menos salvar as imagens, para o caso de alguém, algum dia, tentar recuperar a câmera.

  Decidida a salvar as imagens no meu laptop, eu comecei a transferi-las. Quando elas finalmente terminaram de carregar, percebi que as datas estavam desordenadas com a ordem das fotos. Parecia que as primeiras fotos a aparecer eram na verdade as mais antigas. Isso explicava porque as imagens que eu vira do churrasco não haviam sido tiradas na Flórida. Curiosa, eu olhei as variadas fotos da família. Festas, piqueniques, férias e reuniões familiares foram passando até que eu cheguei ao limite.

  As fotos agora eram apenas do casal. Eram naturalmente íntimas e eu tive uma sensação esquisita enquanto as olhava. Não era nada impróprio, apenas fotos deles aconchegados juntos, ou um do outro em perspectiva de primeira pessoa. Estavam sorrindo e gargalhando, às vezes pareciam tímidos ou embaraçados. Se aquilo fosse um filme, seria uma típica cena de romance. Porém, era vida real e estava começando a me sentir uma stalker.

  As imagens mudaram rapidamente; agora a câmera parecia estar sendo segurada por outro alguém. Inicialmente, supus que estivesse em um tripé, mas algumas das fotos estavam borradas, sugerindo movimento. Quando a vida sexual do casal começou a aparecer, as imagens se alteraram novamente. Eram fotos de ação, distorcidas demais para que eu pudesse compreender o que estava acontecendo. Ao menos de início. Logo percebi que as fotos eram na verdade da esposa enfiando repetidamente uma faca, ou algum outro objeto afiado no marido.

  O assassinato inteiro era composto apenas de quatro imagens, cada uma tirada horas após a outra, mas era bem mais do que o suficiente para eu processar. Parecia ter menos a ver com matar o homem e mais com eliminar totalmente a existência dele. A quarta foto foi tirada pelo que parecia ser a perspectiva da esposa enquanto ela olhava para o marido em uma posição indecisa.

  O marido era um caos indescritível do pescoço para baixo. Os ossos estavam visíveis devido à quantidade de vezes em que a faca havia dilacerado a sua carne. Sangue fresco borbulhava dos ferimentos abertos e sangue seco manchava a pele intocada do rosto dele. Mesmo agora, eu ainda me sinto mal só de pensar naquela imagem.

  A parte mais perturbadora era o rosto intocado do homem. Seus olhos estavam abertos, desprovidos de vitalidade enquanto olhavam diretamente para a câmera, ou mais especificamente, para sua esposa. Sua expressão era quase suave, talvez até... feliz.

  A próxima foto não era uma foto, mas um vídeo. Era curto, durava apenas vinte segundos. Inicialmente, achei que não fosse nada. Estava escuro demais para ver qualquer coisa e mesmo após tudo o que eu testemunhara, ainda era ingênua o suficiente para achar que alguém havia esquecido de retirar a capa protetora da lente. Então, aos dez segundos, o vídeo foi tomado por uma luz brilhante que diminuiu o suficiente para revelar uma casa em chamas. Era possível ouvir apenas silêncio enquanto o incêndio consumia tudo ao seu alcance. A última coisa a ser registrada era a silhueta de uma mulher diante da casa, acenando para a pessoa detrás da câmera.

  Após aquilo, vieram diversas fotos que eram completamente brancas ou distorcidas demais para que eu pudesse compreender. Então havia uma multidão, crianças posando com personagens da Disney e vislumbres de atrações familiares. Algumas fotos eram de duas garotinhas, com as expressões sombrias apesar da atmosfera alegre ao seu redor. Eu facilmente as reconheci como as duas filhas e elas pareciam mais assustadas do que felizes. Às vezes, a esposa aparecia nas fotos, mas ela era só sorrisos. Quem quer que estivesse segurando a câmera nessas "fotos de família" nunca apareceu.

  As últimas poucas fotos eram no Rock'n'Roller Coaster. Em uma delas, eu vi a mim mesma, sentada naquele banco. O que se seguiu foi uma série de fotos passo por passo do fotógrafo caminhando até mim por trás. A última foto era de bem atrás de mim.

  Os pelos da minha nuca se arrepiaram por completo. Nada daquilo fazia sentido para mim. Parecia intencional, como se a mulher quisesse compartilhar seus segredos terríveis. O período de tempo entre as fotos do assassinato e as fotos no parque de diversão era de apenas alguns dias. O fato de que a esposa aparentemente estava celebrando a morte do marido deixava tudo ainda mais assustador.

  Por muito tempo após aquilo, fiquei tentando descobrir o que havia de tão especial em relação a mim. Demorei um pouco, mas agora percebo que não tinha nada a ver comigo. Eu não era especial, apenas conveniente. Alguém que seria forçada a levar o segredo dela até o túmulo. Fosse aquilo uma pegadinha elaborada ou não, era perturbador. Pesquisei por algum crime que se encaixasse com aquela família, mas não encontrei nada. Já removi o post do Facebook faz tempo e nunca nenhum amigo ou familiar do portador daquela câmera entrou em contato comigo. Honestamente, é melhor assim.

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