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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Número Oculto


  Este conto é baseado em algo que vem acontecendo comigo. Tudo o que fiz foi adicionar um toque mais assustador.

  Sabe aqueles números ocultos, que o bina não consegue identificar?

  São formados por um código aleatório de números como 12121212. Ou 140140140.

  Quem bloqueia o número do telefone, não quer ser reconhecido e nem ter sua ligação retornada, ou seja... obviamente não possui boas intenções. Aqueles números que passam trote de falso sequestro, do tipo: "peguei seu filho que nem existe e quero cem mil reais, se não eu esfolo ele vivo!" costumam ser assim. Ou seja: se receber uma ligação como essa, não atenda. Coisa boa não é.

  O pior é que às vezes, quando você atende, o desconhecido passa a te ligar mais e mais. Você fica com medo de que eles saibam seus dados pessoais ou algo assim, embora seja improvável.

  Então, quando um número desses começou a ligar insistentemente para a minha casa, ninguém atendia. Minha mãe olhava no bina e dizia:


  - É aquele número oculto! Não atenda!

  E ficávamos sentados, ouvindo e ignorando a longa chamada como se nada estivesse acontecendo. Era realmente longa, até o limite da caixa-postal (mas nunca deixava recado), e às vezes ligava de novo logo depois. Se houvesse uma pessoa real por trás daquelas ligações, ela provavelmente estaria desesperada ou até em perigo. Mas é claro que não havia. Devia ser algum presidiário que arranjou um celular e queria passar um trote alarmante. Ou pior... Telemarketing.

  Acontece que o telefone fixo fica bem perto do meu quarto e toda hora ele me acorda. Quando alguém atende logo, tudo bem. Mas às vezes o que atrapalha meu sono é uma ligação de número oculto, e eu sou obrigada a ficar ouvindo aquele maldito toque alto até o fim. É bem irritante depois de um tempo.

  Uma vez, eu estava passando a noite sozinha em casa e não conseguia dormir. Ficava me revirando na cama. Mexia no celular, o que me deixava mais insone ainda. Já eram 2 da manhã.

  Não sei vocês, mas eu assisto muito filme de terror e quando estou sozinha na minha casa escura, já começo a imaginar milhares de formas pelas quais alguém ou algo poderia invadir, e ninguém ouviria meus gritos a tempo. Mais um motivo para eu ficar inquieta. Coloquei os fones de ouvido e escolhi uma música relaxante.

  De repente, o toque estridente do telefone sobrepôs a música. Eu já estava irritada por não conseguir dormir mesmo sem aquilo, então levantei num pulo e, sem nem olhar para o bina ou considerar que era estranho alguém me ligar tão tarde, atendi. A ligação caiu imediatamente e só ouvi o contínuo biiip do telefone sem sinal. Desliguei e fui ver no registro quem tinha sido o autor da última ligação. Era (12) 140140140 - claramente um número falso, bloqueado. E ainda por cima interurbano! Bati o telefone com força em seu suporte e fui tomar um copo d'água.

  Ainda estava na metade do copo quando o telefone tocou de novo. Dei trela, agora não vai parar, pensei, mas mesmo assim fui até lá e atendi. Talvez eu tenha sido guiada por uma força maior, ou simplesmente tenha achado que seria diferente. Mas a ligação caiu assim que apoiei o telefone no ouvido, da mesma forma de antes. Agora, passei um tempo ouvido o bip, como se pudesse haver uma mensagem criptografada nele.

  Recoloquei o telefone no suporte. Desta vez, pareceu se passar pouco mais de um minuto antes que ele tocasse de novo e eu atendesse compulsivamente. Isso se repetiu várias vezes durante a noite... Até amanhecer, na verdade. Não dormi. Fiquei atendendo ao telefone em vão como uma louca. Precisava haver algo mais por trás daquilo.

  Então decidi contatar a polícia. Eles estavam sempre rastreando números ocultos como aquele para localizar bandidos, certo?

  Pelo telefone, eu podia sentir o tom debochado na voz do policial, e não poderia culpá-lo. Sei que parecia absurdo, mas eu estava ficando obcecada e precisava de uma explicação. Mesmo assim, ele disse que o número oculto seria examinado e logo eu teria uma resposta.

  Passaram-se algumas horas e recebi uma ligação anunciando os resultados. Agora, o policial do outro lado da linha tinha a entonação bem séria.

  - Parece que encontramos o autor das ligações. O número pertence a Marcelo Andrade da Cunha... - Ele fez uma breve pausa. - Mas ele está morto há 15 anos.

  Comecei a rir, incrédula. Ele continuou a explicar, hesitante, porém solene. Não era brincadeira:

  - Talvez seja outra pessoa com o mesmo nome. Ou talvez tenham reciclado o número e só conseguimos rastrear o antigo portador; isso acontece após muito tempo de falecimento...

  Minha risada logo cessou; estava sentindo um incômodo estranho agora.

  - Ok. Obrigada. - E desliguei.

  Fui direto para o computador pesquisar aquele nome, embora estivesse com medo do que iria encontrar. O primeiro link era uma notícia de jornal antiga, cheia de detalhes desnecessários e mórbidos. Em 2001, na cidade de Aparecida, SP, Marcelo Andrade da Cunha morrera num acidente de carro; uma colisão horrível. Para completar, seu veículo pegou fogo. Porém, ali estava escrito que sua esposa recebera uma última ligação dele um segundo antes da batida fatal. No momento em que ela atendeu, o telefone do outro lado parou de funcionar.

  Mesmo tremendo, disse a mim mesma que não passava de coincidência. Aquele era um nome comum, podia pertencer a outro homem. Mas quando aquele número oculto aparecesse novamente no meu bina, eu não atenderia nem se minha vida dependesse disso.

  Só que não apareceu mais. As ligações pararam definitivamente. Passaram-se uma, duas semanas, e eu já havia quase esquecido. Nada fora do comum acontecia. Até que certa noite, minha mãe não voltou para casa após o trabalho. Ela não costumava atrasar assim e não estava atendendo ao celular.

  Então, recebemos uma ligação. Mas não era ela. Não era nem sequer o número oculto. Era do hospital.

  - Lamento informar, mas... sua mãe se envolveu em um acidente de carro. Faleceu instantaneamente.

  Minha mão amoleceu em torno do telefone, que atingiu o chão ruidosamente.

  Aquelas chamadas insistentes eram, na verdade, um aviso. 

7 comentários:

  1. Aqui volta e meia aconteciam essas chamadas de números tipo 1111111111 ou 120120120120, por exemplo. Um dia deu tantas dessas que até já pensei em cortar o telefone fixo. Mas depois não veio mais nenhuma.
    Vish... Será que alguém próximo bateu as botas e eu não sei? Aiaiai O.o

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  2. O loco vei que parada errada toda vez eu atendo e começo a xingar o povo que ta do outro lado kkkkkkkkkkkkkkk

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  3. Excelente história! Senti um incômodo junto com a personagem ALSKALKSALSK

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  4. Respostas
    1. Não, minha mãe tá bem, graças a deus. Só a parte da ligação de número oculto que desliga na hora quando atende é real (sem querer decepcionar, mas depois de um tempo descobri que é só um telemarketing meio bugado.)

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  5. Belo conto,continue escrevendo contos como esse para o site,bom mesmo.

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