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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Relatos - Parte 15 - Relatório Final



Eu estava congelado. Medo, frio, pavor, podiam descrever o que eu sentia naquele momento. Não sentia nem meu próprio coração bater. 

Coração. 

Não, não conseguia nem mais pensar nele. Nem cogitar essa palavra. A cena que havia visto ainda me torturava. O coração de Guilherme sendo arrancado e comido ainda revirava meu estômago. 

Por um momento, lembrei de tudo que havia passado. Queria minha família de volta. Com brigas e tudo. Apenas minha esposa Clara e minha filha Julia. Eu sentia falta, muita falta delas. E eu estava com medo também. Achava que mesmo nesse pesadelo horrível, a ajuda de Guilherme não faria eu perder a sanidade. Mas agora ele estava morto. E naquele momento eu não sabia o que fazer.

De frente, para todos eles. Cada um com um olhar diferente. Eu podia notar o que eles transmitiam.

"Vamos devorá-lo", a língua passando ao redor dos lábios das, aparentemente, irmãs canibais, mostrava esse desejo.
"Vamos abri-lo e ver o que tem dentro",  o médico louco e sua assistente pareciam ansiosos mexendo em suas ferramentas grotescas.
"Quero apenas um companheiro para a dor", a moça de vermelho e o homem congelado pareciam querer vir até mim e me envolver num abraço mortal.
"Vamos transformá-lo", aquele maligno ser gigante e diabólico enfim mostrava uma espécie de desejo.

- Parem todos vocês! - Uma voz infantil apareceu. Era algo que não combinava com aquele cenário. - Então, você deve ser o "pupilo" de Guilherme. - Ela riu e aparece na minha frente, vinda por trás do monstro gigante. Era a mesma menina que eu havia visto antes de parar aqui. - Aquele maldito então ainda estava vivo e plenamente são. - Ela riu novamente. - Parece que chegaram bem longe não é?

- Q-quem é você?

- Quem sou eu? - Ela sorriu. - Eu sou a Morte. Ou melhor, a sua morte. Olha, - ela começou a contornar meu corpo. Eu ainda não conseguia me mover. - há vários tipos de mortes. Umas são mais amenas, outras são mais agitadas. Mas eu sou um caso à parte. Eu quero ser a morte de todos. 

- Você? M-mas... Você é uma garota...

- Ah, você fala desse corpo não é? - Ela estava na minha frente de novo. - Bem, não podemos aparecer fisicamente no mundo. É uma regra sabe. Se aparecemos, morremos. Que hipocrisia né? A morte precisa matar os vivos para viver, mas não pode aparecer no mundo dos vivos, senão morre. É um pouco confuso. - Ela sorriu.

"Deixa eu te contar como funciona. Nós, as 'Mortes', recebemos essa missão quando aparecemos. Nós devemos usar doenças ou 'mexer' sorrateiramente através de mecanismos para causar um 'acidente'. Nós temos os controles de tudo, das doenças, dos sentimentos, das vontades. Por exemplo, para causar um acidente no banho, primeiro a gente tem que fazer com o que o cara que foi instalar o sistema tenha a 'preguiça' de acabar tudo certinho. Depois temos que fazer que a pessoa entre no banho e sinta 'vontade' de mexer no celular enquanto está acontecendo um temporal lá fora, ou algo do tipo."

"Como você pode ver, é muito complicado organizar tudo isso só para uma morte. As vezes nos reunimos e fazemos uma 'festa'. As famosas pragas, ou tragédias que acontecem. Soltamos a boca do balão e 'vivemos' mais. Isso tudo é normal. Você sabe, acontece todo dia. Somos muitas! Mas como eu estava dizendo, eu cansei de dividir tudo. Não há graça em apenas viver para para matar. Então, eu escolho algumas vítimas e faço delas meus subordinados. Claro, antes tive que passar minha vontade através de algo físico. E sim, estou falando dos Pergaminhos. Claro, abri mão de muita coisa para isso. Mas agora estou colhendo os frutos! Logo não precisarei mais dessa 'casca' que tive que esperar para possuir, e comandarei um mundo só meu!"

- E você vai estar lá, como meu subordinado. Não se preocupe, seu amigo Guilherme também estará. E agora, - Ela chegou perto de mim, com suas mãos totalmente disformes do corpo, com dedos e unhas enormes. - está na hora! - E me atacou rapidamente. 

Por impulso eu me esquivei, e as unhas delas arranharam profundamente meu rosto. Gritei de dor, porque senti que aquilo estava me corroendo e avançando para dentro de mim cada vez mais.

Ela soltou uma risada diabólica :

- Acredito que você saiba que não tem como escapar nem do mínimo arranhão da Morte! 

Olhei para ela. Lembrei novamente da minha vida. Da minha filha. Da minha esposa. Das coisas boas, das coisas ruins. E, então, transformei meu medo em coragem. E, em um último esforço, me joguei sobre a garota e cravei a estaca em seu peito. Ouvi gritos demoníacos. Vi o cirurgião desaparecer, juntamente com a assistente e a paciente dele. Vi o homem congelante e as meninas canibais se contorcerem e sumirem. Olhei para a garota. Ela estava apenas de pé, com a cabeça baixa e seus cabelos jogados para frente. E uma estaca cravada no seu peito.

A dor só piorava. Não aguentei e caí no chão, desmaiando.

"É o meu fim. É o de todos nós..."

Acordei em uma cama de hospital. Mas dessa vez, do meu lado estava minha esposa. Ela pegou na minha mão, e, chorando, pediu o que aconteceu. Eu resolvi mentir, disse que me senti mal de repente. Ela não ia acreditar em nada do que eu dissesse. 

"Pensando bem, acho que foi tudo um sonho... Um terrível pesadelo."

Segurei na mão dela. Vi que ela estava cansada. Pedi há quanto tempo eu estava lá.

- Algumas horas... - Ela falou, sonolenta.

Então duas pessoas chegaram no quarto. Eram duas enfermeiras. Uma delas veio até minha esposa e disse:

- Olá, tudo bem? Agora nós temos que fazer as últimas recomendações ao paciente, enquanto isso você poderia assinar algumas coisas para mim?

- Sim, claro. - Minha mulher me deu um beijo e foi com a enfermeira.

- Você deve estar cansado. - A outra enfermeira, que estava mexendo em algumas coisas falou para mim.

- É, mas nem estou pensando em dormir. - Falei, rindo.

- Que bom! - Ela disse, e se virou para mim. - Então nós nem iremos precisar usar anestesia para a cirurgia. - E ela tirou a máscara.


O sorriso desapareceu do meu rosto, assim como minhas esperanças.

FIM 3ª TEMPORADA

4 comentários:

  1. Woooooow! Demais, cara. Eu tava me agonizando pelo final da temporada. Vai ter a 4ª, Rogers?

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    1. kkkk Obrigado Sayaka!
      Talvez sim, ou spin-offs, vamos ver pelas pesquisas. ^^

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  2. Otima serie,devia ter a 4° temporada

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    1. Olá Janaina!
      Obrigado pelo apoio *--*
      Infelizmente não há uma 4ª temporada. Há apenas os Spin-Offs que contam a o início. Elas estão com as mesmas tags dos Relatos. Só procurar pelas as postagens com "A Origem" no começo. São só 4 posts, mas que encerram toda a história ^^.
      Mais uma vez, obrigado pelo apoio.

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