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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Relatos - Parte 11 - A Luz É Apenas Um Sonho


INÍCIO 3ª TEMPORADA



- Eu não fico mais um dia nessa casa!! - Gritava minha filha Julia, vermelha de tanta raiva.

- Eu sou sua mãe e você vai me obedecer, você queira ou não! - Gritava minha esposa, Clara.

Eu já havia cansado desse tipo de briga. Eu amava as duas. Mas, pelo o que é mais sagrado, se eu pudesse eu teria tapado a boca das duas com meias. Minha cabeça latejava, e resolvi que sair de lá seria a melhor opção. Mas teria que fazer isso sorrateiramente, para não me enfiarem dentro daquele furacão de ofensas. 


No fim, escapei pela porta dos fundos, e fui para o jardim. Dei um longo suspiro e acendi um cigarro. Eu estava tentando parar, mas realmente aquilo era muito difícil. Fiz a volta na casa e fiquei olhando a rua. Ela estava, como sempre, movimentada. Dei uma longa tragada no cigarro e tentei dar uma relaxada, fechando os olhos e imaginando estar num lugar calmo, sem tanto barulho. Algo como uma floresta. Eu podia sentir o vento. O cheiro do orvalho. Então abri os olhos, e lá estava eu, de repente, no meio de um campo aberto com algumas árvores próximas. Balancei a cabeça, mas aquilo não aparentava ser um sonho. Me assustei, obviamente. Mas fiquei mais assustado quando vi, não muito longe, minha esposa e filha amarradas a amordaçadas. Elas olharam para mim, chorando. Quando vi uma sombra enorme pegando as duas e levando para a floresta, gritei os nomes delas e tentei me mover. 

Então alguém tocou meu ombro e percebi que ainda estava no pátio de casa, quase batendo contra o muro. 

- Querido, você está bem? - Era Clara, olhando preocupada para mim.

- S-sim, estou. Só... Acho que tenho que parar de fumar.

- Acho bom mesmo. Vem, vamos entrar. Desculpe pela gritaria de antes... A gente passou dos limites dessa vez. Sua filha foi para o quarto, e acho que você deveria falar com ela...

Minha esposa continuou falando enquanto eu ainda estava tentando entender tudo. Acabei afastando esse episódio e indo conversar com minha filha. Eu achei que a culpa era do cigarro, ou que eu estava ficando velho demais.

Mas, sem eu ter visto, do outro lado da rua, uma garotinha estava me encarando.


Alguns dias depois de tudo isso, minha vida voltou à normalidade. Trabalho, casa, futebol no fim de semana, discussões envolvendo minha família. Enfim, a vida comum.

Todos os dias quando eu volto para casa do trabalho, eu faço sempre o mesmo caminho. Porém, houve um dia que, durante meu trajeto tradicional, avistei em um beco uma garota. Ela vestia roupas comuns, e por um breve momento, lembrou-me da minha filha, quando ela não estava passando pela puberdade. Mas o fluxo de pessoas era enorme, e logo a perdi de vista.

Fiquei com aquela imagem na minha cabeça por um tempo. Mas logo priorizei meus afazeres e esqueci. Aquilo passou como mais um fato estranho na minha vida.

Acontece que depois de um tempo, vi a mesma garota, no mesmo beco. Quando a vi, parei no mesmo instante e observei ela melhor. Ela estava do outro lado da rua, descalça, segurando um monte de papéis sujos em seus braços. Seu cabelo estava muito mal cuidado, e ela me encarava sem piscar. 

Olhei meu relógio. Eram exatamente 18 horas. Quando olhei novamente para o beco, ela não estava mais lá.

Dessa vez, não esqueci facilmente dela. E uma semana depois, no mesmo dia, no mesmo horário, ela estava lá. Me olhando. E provavelmente apenas eu a enxergava ou dava alguma atenção à ela.

Um mês depois que ela apareceu pela primeira vez para mim no beco, resolvi tomar uma atitude. Na semana seguinte, quando ela apareceria pela quinta vez, eu iria falar com ela e resolver aquilo. Ela podia ser louca ou ter algum problema. Mas ainda era uma criança, e eu não podia deixar ela lá, mesmo que as outras pessoas pudessem.

E isso me fez pensar uma coisa. Uma coisa que era absurda na hora, mas que me amedrontou. É que eu sempre acreditei em espíritos e fantasmas. E... Se aquela garota... fosse algo assim?

Mas contra todos esses preceitos, sete dias depois, lá estava eu, olhando para o beco com a menina, às 18 horas. 

"É só uma garota, e você é um adulto. Controle-se homem!", eu pensava enquanto algum tipo de medo tentava tomar conta de mim. 

Fui passando pelas pessoas até estar quase próximo dela. Mas quando cheguei lá, ela havia sumido. Olhei dentro do beco, e não vi ninguém e nenhuma abertura. "Estranho... ", pensei. Então me virei para voltar para casa.

E lá estava ela. Bem na minha frente. Eu gelei. Ela não estava me olhando nos olhos. Apenas estava encarando meu peito. Rapidamente olhei para os lados e tive certeza de uma coisa:

Ninguém enxergava ela a não ser eu.

Virei novamente para ela. E ela lentamente começou a levantar a cabeça. Porém, antes que eu pudesse ver seu rosto, dei meia volta e saí correndo para dentro do beco, sem olhar para trás. Apenas fui seguindo os caminhos. O medo tomou conta de mim.

Depois de uns minutos correndo, eu não sabia onde eu estava. O lugar era isolado, cercado por prédios abandonados. Olhei para meus lados e não havia outra saída, senão continuar em frente. Parei, ofegante, e olhei por onde eu vim. 

Para a minha surpresa, a garota estava logo atrás de mim. Me apavorei, e repentinamente me virei. Dois olhos gigantes e vermelhos me olhavam.

Então, tudo ficou escuro.

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