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quinta-feira, 13 de abril de 2017

Um Céu Estrelado



A noite passava pelos olhos dele. O céu estrelado era a única visão que ele tinha, além do couro que o cercava. Seus olhos não se mexiam, Ele viu uma estrela cadente. Fez um pedido. 

A rodovia mal iluminada fazia parecer o vermelho do Malibu 1966 ainda mais vivo.

O rádio começou a tocar Tarzan Boy, do Baltimore. 

Olhando para o universo, seus pensamentos ecoavam na mente, e perguntas sem respostas ficavam cada vez mais frequentes.

Ele foi interrompido por algum barulho. Demorou para perceber que era uma pergunta. Ele virou a cabeça pro banco da frente.

- E aí, o que você tá pensando?

- Hein. falou comigo? - Respondeu o outro cara sentado na frente.

- Não, falei com o amigo lá atrás. Ele tá quieto desde que saímos da cidade duas horas atrás.

O outro apenas resmungou. Não era muito sociável. Seus olhos voltados para as estrelas agora voltavam para esse cara. Ele tinha quase dois metros de altura. Um homem forte, de aparência dura. Não parecia ter uma vida fácil. Na verdade ele não podia culpá-lo. Provavelmente ele não tinha tido uma infância fácil e a vida não deu descanso para suas cicatrizes. Talvez por isso sua reclusão, sua barba longa e aquelas vestimentas.

O motorista aumentou a velocidade. O vento era bom para todos naquele carro. Fazia o motorista sentir-se livre. O caroneiro se sentir mais e menos vivo ao mesmo tempo. E fazia o passageiro relaxar, mesmo que estivesse deitado no banco de trás.

O motorista riu. Ele sabia que a estrada era longa. Ele queria deixar o capô do Malibu aberto, mas isso o fazia não ouvir a música direito. Ele fez outra pergunta:

- Depois daqui vamos para onde?

- Sei lá. Para casa. - O caroneiro respondeu.

- Você não vai fazer nada com a grana?

- Se você fosse esperto não faria nada por um tempo também.

O motorista quis dar uma risada alta, mas o som parecia que tinha sido baleado na perna.

- E quanto à ele? - O caroneiro fez um gestão na sua direção com a cabeça.

- Achei que tínhamos acertado isso já.

- Hm.

Outras músicas começaram a tocar no rádio no tempo que se seguiu. Os dois da frente trocavam poucas palavras, enquanto o passageiro continuava olhando as estrelas. 

Depois de um tempo, o motorista perguntou:

- Falta muito para chegar?

- Acho que não. É na próxima entrada. 

- Pelo o que eu lembrava era mais perto...

O passageiro olhou para cima novamente. Encarou as estrelas por mais um tempo. Seus pensamentos ecoavam na mente. Ele viu algo que o fez sorrir.

Uma música começou na rádio. Tarzan Boy, do Baltimore.

O motorista era um cara totalmente diferente do seu companheiro. Magro, com um cabelo comprido e bem cuidado, e de aparência mais leve. Não parecia preocupado com a vida e nem com o dia de amanhã. Passado alguns minutos, ele olhou para o ponteiro da gasolina. 

- Ainda temos o bastante para fazer duas vezes o caminho de volta se precisarmos.

- Não vai precisar disso. - O caroneiro resmungou.

O motorista soltou uma risada nervosa. Na verdade ele havia dito aquilo para si mesmo, para se tranquilizar. Afinal, eles deveriam ter chegado já.

Algum tempo depois o caroneiro bufou:

- Cara, a gente já devia estar lá!

- Eu sei, mas só relaxa cara. A gente logo chega. A entrada fica perto de uma árvore seca gigante. Dá pra ver ela mesmo nesse escuro.

Não muito tempo do motorista passar essa informação, eles avistaram a tal árvore.

- Viu! Não disse? Estamos chegando.

O motorista fez a curva para a direita, e continuou pela estrada.

- Pronto. Agora estamos quase lá. Quase posso sentir o descanso, haha.

O caroneiro apenas resmungou novamente. Ele mal via a hora de descansar.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, até o o motorista cansar e resolver aumentar o som.

"...Jungle life 
I'm far away from nowhere..."

- Porra! Não cansam dessa música? - O caroneiro falou, indignado.

- Pois é. Vou trocar de estação.

A estação transmitia notícias de como seria a noite. Céu limpo e estrelado.

- Fico imaginando o que eu farei com o dinheiro... 

- Cala a boca e dirige.

- Haha, se acalme parceiro. Seus dias de pobreza acabaram! 

Andaram mais alguns minutos na rua, até que o motorista começou a desacelerar.

- Estamos chegando? - Disse o caroneiro.

- Acho que passamos por aqui antes...

Uma curva com uma grande árvore estava a frente, no caminhos deles.

- Também tenho essa impressão..

- Devemos voltar?

- Não! A gente está nessa estrada fazem horas. Eu não aguento mais. Você disse que era numa curva com árvore ao lado né? Pois então continue!

O motorista ficou em silêncio, mas continuou na pista. Após algum tempo deles passarem por aquela curva, o motorista falou:

- Tenho quase certeza que já havíamos feito aquela curva...

O passageiro continuava deitado. Ele voltou novamente sua atenção as estrelas. Sentia que poderia dormir se quisesse. Mas ele não queria.

De repente, o carro parou. 

- O que foi?! - Exclamou, espantado, o caroneiro.

- Veja lá na frente. - Respondeu o motorista.

Havia mais uma curva. E mais uma árvore, tão grande quanto a última que haviam visto em uma curva tão parecida com aquela.

- O que está acontecendo? - O caroneiro falou baixinho.

O rádio começou a tocar Tarzan Boy, do Baltimore.

Os dois se olharam.

O passageiro olhava para o céu.

Uma estrela cadente passou.

Ele sorriu.

Revisado por: Rogers

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